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Civic Hacking - Mar 2010

Consolidado semana 1 - a internet pode transformar a política?

Karine Mueller's picture
Tue, 2010-03-23 21:34

A internet pode transformar a política?
 
Essa foi a questão que norteou as discussões da primeira semana do curso de Civic Hacking da P2PU. A partir do conceito de  esfera pública interconectada apresentado por Yochai Benkler no capítulo 7 do livro The Wealth of Networks algumas reflexões e estudos de caso foram apresentados.
Cal Moreira:“Eu penso que sim. E não é só pelo imediatismo das notícias, dificultando uma edição favorável a este ou aquele político, ou a manipulação das informações das ações políticas, porque tudo isto acaba sempre acontecendo. Penso que o surgimento dos blogs pessoais de gente comum mas que tem o que dizer, tem um posicionamento crítico perante o mundo, a sociedade, que comenta e divulga os fatos, que questiona; as comunidades na rede que tb fazem o mesmo papel...tudo isso junto obriga uma mudança, pois tudo fica mais transparente e vou além, dificulta o esquecimento, a memória curta dos eleitores que tanto agrada aos políticos. Não sei se é uma mudança de conceitos, ideológica ou apenas superficial e factual, não sei...mas de qquer forma, estamos mudando nós e isso com certeza pode alterar tudo.”
Texto Benkler
Participantes ativos na esfera pública, em oposição a leitores, ouvintes ou espectadores passivos, essa é a mudança apresentada por Benkler no ambiente da economia informacional em rede de hoje e que retrai a economia do mass media. “A queda dos custos pra se comunicar publicamente (que se ainda não é completa e universal, já é brutal em relação aos valores praticados num contexto da mídia tradicional) é transformadora em todos os sentidos, mesmo que não estejamos falando especificamente sobre intervenções políticas aqui. Saber que, fazendo parte da rede, você pode levar suas opiniões e seus interesses a público quando quiser, é uma coisa que muda nosso lugar no mundo.” (Daniela B. Silva)
“A mudança é tão qualitativa quanto é quantitiativa. A mudança qualitativa é representada pela experiência de ser um falante potencial, em oposição a ser simplesmente um ouvinte ou um eleitor. Ela está relacionada com a autopercerpção dos indivíduos como parte de uma sociedade e com a cultura de participação que eles podem adotar. A possibilidade fácil de se comunicar efetivamente na esfera pública permite aos indivíduos se reorientarem de leitores e ouvintes a falantes potenciais e participantes de uma conversação.”
Pág.2
 
O autor se refere a sujeitos potenciais da comunicação pública os quais através de seus blogs afetam a estrutura de absorção de observações e pontos de vista.
 
“Por meio do uso de chats, qualquer pessoa com uma linha telefônica se torna um falante com uma voz que ressoa mais longe do que poderia de qualquer palanque. Por meio do uso de páginas da web, listas de e-mail e grupos de notícias, os mesmos indivíduos podem se tornar "panfleteiros".”
Pág.3
 
 
 
Karine Mueller: “Me arrisco a dizer que sim. Mas vejo da seguinte forma: a internet e todas as suas ferramentas são apenas mais um meio de transformação, como poderia ser um projeto de educação popular, por exemplo. Ela por si mesma, acredito eu, é revolucionária. Acho que podemos trazer aqui uma outra questão: o uso que fazemos da internet pode transformar a política? Aí nesse contexto acho que entramos numa discussão mais profunda onde cabem exemplos de redes, listas de discussão, wikis e blogs que se manifestam nesse espaço atingindo um pequeno ou grande grupo de pessoas com interesses afins. Acho que vale também para responder essa questão a gente partir do pressuposto de "quem" ou "o quê" controla essas informações no ciberespaço. Será que somos nós (sociedade civil), governos, corporações? Quem tem mais peso nessa história? Tô prestando atenção nisso e também, assim como o meu par, Diogo Costa, tenho muito interesse em saber como a tecnologia P2P pode mudar as relações sociais e o trânsito de informações na rede. Será uma nova configuração para uma esfera realmente "pública" e de fato "interconectada"? Fico por aqui aguardando novas opiniões para novas reflexões.”
Texto Benkler:
 
Segundo Benkler desde o fim da década de 90 houve uma crítica significante da concepção precoce dos efeitos democratizantes da internet.
 
“Há uma linha que demonstra preocupação de que o excesso de informação levará à fragmentação do discurso, à polarização, e à perda da comunidade política. Uma diferente e contraditória sugere que a Internet está, na verdade, exibindo concentração: tanto a infraestrutura quanto, mais fundamentalmente, os padrões de atenção são muito menos distribuídos do que nós pensávamos. Consequentemente, a Internet diverge da mídia de massa muito menos do que nós pensávamos em 1990 e significativamente menos do que nós devemos esperar.”
Pág. 4
 
 
E aqui entra a discussão de neutralidade na rede:
O maior medo por parte dos defensores da neutralidade da rede é que os provedores de banda larga tornem-se guardiões do conteúdo da rede mundial de computadores, favorecendo grandes empresas que teriam condições de investir em infra-estrutura para que seu conteúdo seja melhor e mais rapidamente acessado na rede. Há também o temor de que instituições de caridade ou universidades venham a ser prejudicadas, além do medo que os consumidores acabem pagando a conta. Porém existem especialistas que acreditam que o fim da neutralidade não fará diferença, pelo menos em um curto prazo. “Não estou convencido que as telefônicas tenham qualquer plano específico para implementar novas e ameaçadoras formas de discriminação por banda”, diz Milton Mueller, professor da Universidade de Syracuse. Caso essas leis contra a neutralidade sejam aprovadas e não derem certo em países que lideram essa discussão, como os Estados Unidos, outros países poderão tomar uma posição contrária.
A demanda e a oferta por banda continuam e continuarão a crescer, porém não é esse um fator determinante para que haja mudanças nos métodos de cobrança. Sempre houve taxas mais caras para quem quisesse maior velocidade e uma banda mais larga. A neutralidade da rede deve, portanto, ser discutida como um tema de censura e ameaça aos negócios, porém não deve ser encarada como um problema imediato e transformador da internet atual.
(texto extraído do link http://pt.wikipedia.org/wiki/Neutralidade_da_rede sugerido por Daniela B. Silva)
Wille:“Minha resposta vai mais ou menos na mesma linha do pensamento de Karine. Talvez dizer que a internet possa mudar a política seja uma coisa até óbvia. Enquanto ferramenta, existe um potencial em tudo, seja na internet, no rádio, na tv... Pela arquitetura em que a internet foi desenvolvida, existe um potencial imenso de transformação, muito maior do que nos outros meios. No entanto, para esse potencial se concretizar é um longo caminho, e talvez a pergunta tenha que ser alterada para: Como a internet pode transformar a política? Hoje vi um vídeo do debate que ocorreu na campus party: "Revolução de sofá" ou evolução das mobilizações sociais? O vídeo me trouxe alguns questionamentos que acredito serão úteis no decorrer do curso. segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=TEOHZ8u-oHk&feature=player_embedded
 
Paulo Leandro Schleder:Trocando o arco-e-flecha pelo laptop para combater o desmatamento - A notícia na BBC, nos responde se a internet pode transformar a política. Sim, pode. E já está. Por sua própria essência descentralizada, desconcentradora, acessível, imediata, coletiva, rápida, múltipla, etc... Ainda + qnd somada à nova geração de ativistas que a faz ter tb consistência de conteúdo e não apenas a forma libertária. Pequeno exemplo desta soma (forma + conteúdo) libertadora potencializando a ação política das minorias com a sabedoria de seu uso revolucionário e inovador sem no entanto 'matar', desprezar, desrespeitar suas riquezas e valores tradicionais: "Nossos arcos e flechas estão guardados em casa, cada um tem seu arco e flecha guardado em casa. Mas, ao mesmo tempo, a gente está usando notebooks", diz tirando um pequeno telefone do bolso: "iPhone..." "Hoje essas são realmente nossas ferramentas de diálogo para construir um mundo melhor." Almir, chefe do clã Gamebey, responsável por tratar dos assuntos ligados à guerra, à diplomacia e ao meio ambiente entre os Suruí, diz que as novas "armas" não invalidam as antigas. link da reportagem da  BBC: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/03/100316_surui_abre_pu.shtml””
 
 
Comentário de Daniela B. Silva:
 
Sensacional esse exemplo, Paulo. Achei fantástica a forma que o chefe Suruí identifica esse novo poder de comunicação – associando, diretamente, com uma forma de poder político:
 
 
 
"Eu acho que nossa aliança com a internet é muito importante porque facilita e possibilita que a comunicação fortaleça politicamente nosso povo", diz o líder indígena Almir Surui, de 35 anos.
É um exemplo de que uma comunidade, um grupo de pessoas ou um indivíduo pode de fato se reconhecer como mais influente na esfera pública, quando tem a possibilidade de fazer parte do discurso ativamente.
 
E o exemplo ainda levanta algumas outras boas questões pra gente pensar junto:
 
- o fato dessa comunidade ter identifcado o Google – e não o poder público, não uma empresa de mídia tradicional – como articulador possível para se fortalecer comunicativa e não politicamente
 
- a possível emergência das comunidades tradicionais (bem como outras comunidades que, no contexto da mídia tradicional ficam na "periferia" do contexto comunicacional) na rede. Eu acredito que a presença dessas comunidades na rede pode fortalecer a cultura tradicional e local.
 
 
Diogo Costa:“A Internet é essencialmente tecnologia. É também uma rede viva de pessoas interligadas e um sistema que cria sua própria política baseada em regras virtuais totalmente metamorfas. Exemplo: Twitter e Chatroulette. Duas redes sociais relativamente novas, mas com mecanismos de interação e permissividades totalmente diferentes. Podemos dizer que os dois possuem políticas muito diferentes uma da outra, e podemos alternar entre um e outro com muita facilidade (taí uma coisa nova que a internet nos trouxe. A capacidade de alternar métodos de relacionamento).
Enfim, o que quero dizer é que a rede social é somente o resultado de uma estrutura que não nasceu necessariamente de uma visão política, e sim uma visão tecnológica.
 
Comentário de Daniela B. Silva parte 1:
Aqui eu acho que só nesse ponto eu discordo um pouco de você, Diogo. O que possibilitou que Twitter e Chatroulette existissem, e que nós pudéssemos fazer parte deles, é o fato de que a rede é baseada em alguns protocolos. Ninguém precisou "pedir permissão pro dono da Internet" pra criar o Twitter – bastou construi-lo de acordo com os protocolos da internet. Hoje esses protocolos refletem valores de abertura, liberdade e inovação. E esses valores são fruto de uma visão que não é apenas tecnológica, mas sim política. Que hoje reflete esses valores, mas amanhã pode refletir outros.
 
Diogo Costa:Assim, vejo iminente as novas tecnologias que vão mudar nossa visão de tudo. Hoje, temos o 3D que provavelmente resultará em imersão em realidades virtuais.Portanto, neste estágio, acredito eu, a transformação será na  "política" orgânica da forma como nos relacionamos com os outros e não necessáriamente na forma como nos relacionamos com o Estado e as Organizações. Acho que tô viajando um pouco demais =)... Já vou linkar isso ao nosso papo de agora...Enfim, o que transformará a política? A Internet no contexto humano, como rede de ligação e articulação, ou de fato, as inovações tecnológicas que vão mudar em essência a forma que vivemos e portanto a forma que fazemos política? Pode parecer um exercício de futurologia, mas acho que o cyber ativismo talvez não seja somente o de estruturar as redes sociais para ser articularem de forma efetiva na transformacão política. Acho que estar a frente das promessas tecnológicas e pensar sobre as formas que ela poderá nos afetar é também um serviço ao nosso futuro.Enfim, esta é a opinião do lado de quem  cria as "estruturas" da internet de forma tecnológica.”
 
Comentário de Daniela B. Silva parte 2:
 
Concordo totalmente que, a política de que estamos falando aqui, é aquela que se dá nas relações de poder entre as pessoas, principalmente quando essas relações estão ligadas a interesses coletivos. Não precisamos mesmo estar necessariamente falando de governo e administração pública.
 
 
Carla Mayumi: “Como a maioria já falou, a minha opinião também é que a internet muda de maneira TRANSFORMADORA a forma como as pessoas passam a se relacionar com a política. Humildemente acho que ainda estamos (principalmente aqui no Brasil) em um estágio mais inicial dessa transformação. Ainda não temos total consciência do poder transformador que a internet nos dá. Digo que estamos num estágio inicial porque ainda nem nos familiarizamos 100% com as ferramentas da internet... não dominamos o uso desse universo digital (diferente dos EUA que já está um pouco mais à frente). Bem, depois que dominarmos estas ferramentas e essa nova forma de nos relacionarmos uns com os outros, nós mesmos com a informação, e finalmente nós com as organizações, aí sim a internet vai nos ajudar a transformar a política. Primeiro temos que tomar essa CONSCIÊNCIA. E vejo que só através de coisas concretas a gente vai entender alguns dos novos papéis que a internet está tomando. Só com teoria e sem prática nada vai mudar. Centenas de estudos acadêmicos transformam menos que uma ideia bem colocada no mundo. Vou usar como exemplo um caso que acabei de conhecer num evento do qual participei sobre internet. O tema dessa parte era "A cidade como plataforma (leia-se "de mudança através da internet"). Um case interessante: uma plataforma online de uma cidadezinha americana chamada Manor. Confiram aí: http://manorlabs.org/    O que os caras estão fazendo: criaram uma plataforma COLABORATIVA pra identificar problemas nessa cidade. Não nasce para ser uma ferramenta política, mas é uma super ferramenta de fazer política de forma aberta, colaborativa e transparente. A população participa. Os políticos vêem e agem da forma como quiserem, sem nenhum comprometimento político direto e aberto com o que é sugerido ali. Mas é um super primeiro passo, não? Esse outro caso que vi no mesmo painel do evento vai na mesma linha. Segundo o cara que palestrou, muitas coisas importantes estão acontecendo por causa da ferramenta. Site: http://seeclickfix.com/citizens    Vale a pena dar uma boa navegada. O slogan do site é "power to the community", referindo-se a uma comunidade física e local mesmo (um bairro ou uma cidade). Gosto de pensar através de exemplos e ideias colocadas em prática, aí vai mais um, agora brasileiro: o "votenaweb.com.br". A empresa por trás desse site é de um amigo meu, o Helder, que resolveu montar uma empresa de internet "cidadã". Ele pensou mais ou menos assim: "chega de ficar reclamando... vou fazer alguma coisa com o que eu SEI fazer" (no caso, design e sites 2.0). Vejam o site para entender. Você dá um "sim" ou um "não" para propostas de leis que estão tramitando no congresso. Acompanha quais os políticos que estão pensando no próprio umbigo... quais os que estão propondo coisas ridículas (desculpe mas eu achei ridícula a proposta de um cara lá da minha terra - sou gaúcha - a criação do "Dia Nacional do Vinho"., por exemplo). Bem, independente dos julgamentos individuais, o site o assunto na roda coloca de forma fácil e interessante, tipo, minha vó entenderia esse site e meu filho de 15 anos acharia divertido dizer sim ou não às leis. Tem mais. Tem um site de um país da África que disponibiliza uma ferramenta para que as pessoas se envolvam em um jornalismo colaborativo. O site tem um mapa e qualquer um pode reportar, através de foto, texto ou vídeo, algum acontecimento relevante no local. Imaginemos São Paulo e essa ferramenta sendo utilizada para mostras pontos de acúmulo de lixo na cidade, por exemplo. Eu e centenas de pessoas poderiam tirar uma foto, colocar no site, e incentivar a prefeitura a se focar nos pontos mais problemáticos do lixo na rua. Ou eu poderia tirar uma foto de um traficante vendendo drogas na esquina e ajudar a polícia a localizar os principais pontos de tráfico da cidade. Transparente, participativo, poderoso, transformador. O site que eu conehço que possibilita isso é o www.ushahidi.com. Ele é uma plataforma que pode ser usada desde os detentores da ferramenta concordem. Tem, por exemplo, o http://www.cuidemoselvoto.org/  (an independent platform to help monitor the federal elections of 5 July 2009 in Mexico), ou o Atlanta Crime Map: http://crime.mapatl.com/ou ainda o . Todos baseados na plataforma original do Ushahidi, criada para mapear e reportar incidentes de violência no Kenya. Naveguem aqui ó: http://www.ushahidi.com/work
Acredito que a transparência que esse tipo de relação trás ainda vai causar medo em muitos políticos, porque o que nunca foi transparente de repente pode ser transparente. O que a gente nunca foi atrás (a informação além do que sai na Veja) de repente chega facilmente ao nosso alcance. Pode ser um link que alguém mandou. Pode ser uma destas ferramentas que a gente fica conhecendo... começa a poder ser muitas coisas. Mas bem, sendo um pouco cética, acho que ainda estamos longe dessa consciência para chegarmos na real ação. Também não vejo muitas pessoas dispostas a investir seu tempo desenvolvendo projetos como esse. Também somos vítimas, ainda, de uma tirania tecnológica, pois a maioria das pessoas não tem nem acesso a alguém que pode desenvolver um site, ainda mais um site com uma plataforma colaborativa e que funcione. Lembrando ainda que a grande maioria dos internautas é passivo e não ativo (ou seja, lê, consome, mas participa pouco com seu conteúdo ou mesmo opinião mais elaborada). O que consigo vislumbrar a partir do que a internet oferece, daqui alguns anos talvez, mas não muitos, é um movimento novo, que vou chamar de “política INFORMAL”. Uma política desvinculada da política “de Brasília” ou partidária que a gente aprendeu a não gostar, não participar e criticar (sem nada fazer). Abre-se a possibilidade de um, e por que não, de inúmeros novos modelos de “fazer política”.
 
Comentário de Daniela B. Silva:
 
Aqui tem exemplos sensacionais de coisas que podemos discutir embaixo desse guarda-chuva do civic hacking (que a gente ainda está descobrindo o que é). Um proposta: a gente podia começar a montar um documento colaborativo, uma lista, uma página wiki com esses exemplos de sites que vão aparecendo na nossa discussão. Podemos depois subir isso como produção do curso no site da P2PUniversity, pra que fique acessível pra outras pessoas
 
Ricardo Poppi:“Ah pode. Tem a questão da cultura hacker que levando as pessoas a participar nas listas, comunidades, e propiciar contato com a netiqueta, pode proporcionar um ambiente educativo, transformando a postura do cidadão. Pode mexer com a motivação de publicar das suas próprias opiniões além de modificar o relacionamento com a opinião dos outros, de uma forma mais construtiva e colaborativa. A internet transformaria, ou pelo menos proporcionaria o ambiente para a transformação do fazer-político da participação na esfera pública. Por outro lado pode transformar também empoderando grupos que não teriam outros meios para se organizar. Nesse caso a internet não atua tanto na dimensão da cultura mas em dar vazão a uma potencialidade de ação que  já existia e estava latente na sociedade. Creio que o primeiro exemplo do Benkler (caso Sinclair) mostra isso: pessoas espalhadas que teriam tido uma capacidade de influência  pífia se não fosse a rede. Provavelmente teriam ficado dando "cabeçada na parede" e passando raiva. A indignação já existia (latente) mas foi a rede que permitiu que o movimento alterasse as decisões dos anunciantes (ponto central da questão).”
 
Comentário de Daniela B. Silva:
Muito legal, Poppi. Uma coisa que seria interessante pra gente produzir também: tentar procurar casos parecidos com esses descritos pelo Benkler – o caso Sinclair e o Blackbox Voting – e trazer pra discussão. Tem um momento no curso que nós vamos falar da mobilização contra a Lei Azeredo na internet, por exemplo. Mas se houver outros casos assim no Brasil, seria ótimo que a gente pudesse levantar e discutir.
 
Gabriela Agustini:“Concordo bastante com o Poppi (já que a Dani o chamou assim, vou usar também), no que diz respeito à tranformação do fazer político possibilitado pela rede. Por meio dela, a sociedade pode atuar mais diretamente, o que cria novas formas de representação. Um exemplo atual brasileiro de como a internet permite novas formas de construção política é a rede do Fórum da Cultura Digital Brasileira (www.culturadigital.br). Venda de peixe à parte, o projeto se propõe a ser uma rede social de discussão e construção colaborativa de política pública pela rede. Um exemplo bem sucedido de como isso vem funcionando é o processo de construção do marco civil da internet, proposto pelo Ministério da Justiça. A equipe lançou na rede um texto inicial, do que seria esse projeto de lei regulamentando a rede no Brasil, e abriu para consulta pública pela plataforma. Foi o primeiro processo de consulta pública colaborativa online feito no país. O resultado foi uma alteração bastante grande do texto inicial, o que comprova a eficácia da abertura para os cidadãos. A interação pelo blog (www.culturadigital.br/marcocivil) aberta à participação de qualquer cidadão é um modelo a ser pensado nesse novo contexto que vivemos. Essa junção de pessoas pelas áreas de interesse, por afinidades, me faz pensar se essa forma de representação política baseada em territórios, localizações geográficas vai fazer sentido ainda por muito tempo... Acho que sai um pouco do tema, mas, enfim, é um desdobramento a se pensar. Voltando à pergunta proposta pela Dani, acredito que a internet sim transforma e não apenas a política como toda a forma de comunicação e participação dos cidadãos. Cabe a nós, agora, pensarmos em formas bacanas de apropriação dessas tecnologias para de fato pensar em ações que transformem e criem realidades.”

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